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Teatro – O Palco de muitas vidas...

O Teatro, essa palavra que faz pular o meu ego, é parte integrante da minha vida há alguns anos. Acho que nem sei bem quando é comecei e o porquê de ter começado. Sei que a primeira coisa que fiz foi uma tentativa de um quadro de Revista já feita pela Marina Mota e penso que também pela saudosa Ivone Silva “Eu abro saco, tiro a mala, fecho o saco, abro a mala, tiro a carteira, fecho a mala, etc...)
Dai a ter os pés assentes nas tábuas do palco, foi um piscar de olhos. No ano seguinte estreamo-nos (eu, a Catarina e a Gui) com a peça “O Atiçar do Lume” de Joaquim Murale. Para quem não conhece, esta peça retrata a história de Catarina Eufémia, é uma peça de cariz dramático, onde é retratado um Alentejo pobre, oprimido, então toda essa carga dramática recaiu em cima de nós actores e ainda mais, em cima de quem não tinha qualquer experiência de palco.
O resultado foi, que assim que entrávamos em cena, os nervos eram tais que nós só chorávamos. Louvo aqui a coragem da Catarina, que do alto dos seus 15 anos, na última cena aparecia enforcada e nem um cabelo mexeu durante cerca de 10 minutos. No dia da estreia com a casa a abarrotar, ouve quem no público se sentisse mal. Nunca me hei-de esquecer.
No ano seguinte o Grupo enveredou pelos caminhos da Revista á Portuguesa. Hoje quem me conhece sabe qual a minha opinião em relação a essa vertente Teatral (não tenciono repetir muitas mais vezes a experiência, pois não tenho vertente cómica suficiente para achar que consigo fazer rir o público).
Fiz de vélhinha caquéctica, raquítica e muito codrilheira, fiz de Top Model, de lavadeira e de bêbeda (com vinho a sério, misturado com café, onde bebia e babava-me toda, as pessoas achavam um piadão e eu perguntava-me porque é que as pessoas só se riem do mal dos outros?)

Ano seguinte, mais uma Revista (e eu a pensar cá para comigo, mas esta gente não sabe fazer mais nada??). Bem, fiz de Tia (qual Lili Caneças), fiz de mulher traída e que dava porrada no marido, mais uma vez fiz de velha (mas esta gostei de fazer!) e fiz de Madonna estrábica (Nossa Senhora???!!!), foi o fim da picada, não aguentei mais e sai do Grupo.
Entretanto soube de audições para um Grupo de Teatro em Lisboa e fui lá, passei, fiquei e então sem saber estava a caminhar para a época em que mais gostei de fazer Teatro.
Aprendi muito, devo isso a uma pessoa que considero um visionário desta arte, Miguel Mestre.
Na peça “Romeu e Julieta” fiz de Beata Alzira (com uma acentuada pronúncia do norte) e tive como minha companheira a fantástica Marina (no papel de Zulmira) que num dos espectáculos resolveu sentar-se precisamente no colo do meu pai, eu ia morrendo de tanto rir com a cara do meu pai, tipo GNR mal humorado (se ele tivesse um buraco, tinha-se lá enfiado até o fim da peça....).

Uma das peças que mais me marcou, foi a “Simbiose”, fazia de Tia e tutora de duas irmãs, uma representava o mal, a outra o bem.
A peça era de tal forma forte e emotiva que conseguia mexer com os nossos sentimentos, então num dos últimos espectáculos, depois da cena em que eu tinha que bater (a sério) numa das sobrinhas e ela em mim (na altura era uma pessoa algo chegada a mim) acho que entrei em pânico e comecei a deixar de sentir a cara, as mãos, os braços (ainda me lembro: “Tu Margaret, tu mentistes-me, tu tentaste virar-me contra a tua irmã. PORQUÊ??”).
Mas o Teatro é isto, muitas vezes, é levar as situações a extremos, arriscar, provocar o público, criar expectativas e surpreender sempre, isto foi uma das muitas coisas que aprendi com o Miguel e que hoje tento passar a quem está comigo no Grupo de Teatro do G.B. 22 de Maio.
A seguir á “Simbiose”, fizemos algo de arrojado, o “Memory”, um espectáculo que apesar de ser em Playback, cantávamos (eu pelo menos cantava, mea culpa) o espectáculo todo, dançávamos imenso e exigiu muito de nós, na altura cheguei a pesar 59 Kgs.
Fui Edith Piaf, uma das gatas do Cats, fui a Rizzo do Grease, fui umas das “loucas” que frequentava o Estudio 69, entre outras personagens. Foi o boom que nunca esperei que acontecesse na minha passagem por esta arte.
Na passagem por este Grupo, ganhei algumas amizades, que entretanto se foram perdendo mas que eu não esqueço: A Sónia (a única com quem ainda mantenho contacto e a quem considero uma amiga), a Xana (as nossas conversas até á 01.00 da manhã no meu carro), a Vanessa (como é que uma coisa tão pequenina têm tanta energia?), a Marlene Amaral (e todo o seu exotismo), o James (e o seu Humor Inglês fantástico), o Cordeiro (e a sua insanidade positiva), a Marta (e a sua calma), a osga (que olhava por nós nos ensaios, lá de cima do tecto) e também o Miguel (obrigado por tudo o que me ensinaste) e não podia deixar de referir aqui o meu Solrak, que foi ver quase todos os espectáculos e grande parte dos ensaios (és a minha grande força, obrigado, mil vezes obrigado!!).
Bem como tudo na vida, nada que é bom, é eterno, sai e ai comecei a minha luta interior contra sentimentos que nuca esperei vir a sentir enquanto actriz amadora, decepção, revolta, cheguei quase a odiar a palavra Teatro. Numa desesperada atitude, inscrevi-me num “curso” de Teatro, não cheguei a meio desse “curso”, porque para mim fazer Teatro não é estar numa sala escura repleta de adolescentes, a pensar que vão ser vedetas de novelas quando acabarem o “curso” (??Qual “curso”??), e a “monitora”??? a dizer-te com uma voz intimista: “Agora imaginem que
estão no meio de uma floresta...estão sozinhos...começaram a ouvir barulho...é um lobo...sentem-se indefesos...o que fazem? Gritem! GRITEM! GRITEEEEM! “ Desculpem, será que estive enfiada num manicómio e não dei conta de nada?
Fiz um interregno, tal como quando se acaba uma relação, tive de fazer o meu luto, estive afastada durante 2 anos, mas nunca o esqueci, pelo meio dediquei-me á escrita, escrevi “As cores de Abril”, uma peça musical que conta a história de Portugal entre 1961 e 1974 e escrevi uma outra que não têm titulo mas podia-se perfeitamente chamar “O segredo”, que conta a história de uma família inglesa que esconde muitos segredos e que são desvendados através de sonhos e aparições, num conflito entre o presente e o passado.
Estas peças nunca foram para cena, apenas um pormenor de uma foi feito em Abril deste ano, na minha volta ao palco do G.B. 22 de Maio.
Em Janeiro deste ano surgiu a oportunidade de voltar a unir este Grupo, engoli o meu orgulho e com um grande nó no estômago voltei a entrar naquela colectividade, nunca esperei ter coragem para tal, admito sou casmurra, mas tenho a sensação que ás vezes é o melhor a fazer. Mas isso são outros tantos...
Agora somos 8 actores, 4 deles nunca pisaram o palco, mas louvo a sua capacidade de esforço e de integração. Entrei como um deles, sou como um deles, mas cedo me apercebi que me tinham passado uma batata a escaldar para as mãos, para a qual ainda não sei ao certo se terei capacidade para suportar.
Sinto-me cansada, sinto-me muitas vezes injustiçada, porque todo o trabalho que estamos a fazer não é para nós, é para o público, para os associados, para os chamar de novo ao que em tempos foi uma casa cheia de gente, o que é pena é que muitas vezes não entendam onde nós queremos chegar. Eu costumo dizer que: “Se nós já somos pequeninos, porque não havemos de ter o direito de sonhar com algo maior?”
Deus é grande, a força de vontade de quem lá está também, logo, em breve apresentaremos os resultados de sermos muitas vezes exigentes e intransigentes.
Hoje, dia 29 de Setembro, dia que o Grupo de Teatro do G.B. 22 de Maio de 1925 faz 77 anos, a Sandra, a Gui, a Cláudia, a Carina, a Rafa, o Rui, o Jorge e o Rogério querem dar os parabéns ao Grupo e informar que parte da prenda deste aniversário encontra-se aqui
http://gb22maioteatro.blog.pt/, a outra parte da prenda, encontra-se atrasada e será então entregue no dia 04 de Novembro pelo Grupo de Teatro Incrível Almadense, com o início da nossa I Mostra de Teatro.
Tenho dito.

P.S.- Algumas fotos que aqui apresento são de espectáculos que nada tem a ver com peças de Teatro.

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